sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Olhares



Era nada mais, nada menos que uma manhã nublada naquelas ruas de Paris.
E ela sabia o que ia fazer. Há alguns dias atrás, enquanto passeava na carruagem com outras raparigas, ela vira-o. Foram apenas breves segundos. Uma troca de olhares soltos. Bastou para tudo mudar.
Desde que se lembra, foi-lhe sempre dito que não podia ir para aquelas zonas a pé nem sozinha. Ficava mal a uma rapariga com tamanho estatuto andar entre os pobres. Mas também sabia que o seu pai nunca aceitaria o que ela estava prestes a fazer, por isso saiu sem avisar ninguém.
Vestida com o simples vestido vermelho, correu até chegar à zona que lhe estava interdita. A partir daí abrandou as passadas e caminhou no passeio de paralelos. De forma subtil passou por rapazinhos a brincar à entrada de uma casa. Brincavam com bolas feitas de panos velhos, Partilhou com eles um ténue sorriso.
Com o tempo a correr, começava a aparecer mais gente e, em pouco tempo, uma multidão instalara-se. Não passava despercebida aos olhares curiosos mas continuou o seu caminho. E entre todas as pessoas, ela avistou-o ao fundo da rua. Sentiu uma súbita descarga de emoções e correu. Ao chegar perto dele parou e recomeçou a andar lentamente até lhe conseguir tocar no ombro. Ele virou-se e ao vê-la, nada mais importava.
Agora tudo a até um pouco de nada começavam a fazer sentido. Ao seu redor, tudo desapareceu e o que apenas restava eram os olhares presos um no outro e o toque das mãos.
As mãos delicadas e suaves dela.
As mãos gastas e trabalhadoras dele.

2 comentários: